domingo, 27 de dezembro de 2009

A Fúria

Todos queriam saber de Rita. Só Helena podia dar essa resposta. Filipe era o mais ansioso, mas a mãe estava cansada. Primeiro consolou o marido garantindo que a sua filha estava bem. Depois, muito calmamente, saiu da sala rumo ao quarto. Tomou banho, mudou de roupa. Desceu e inspeccionou a casa para ver se estava tudo como gostava.
Filipe, a pedido do pai, respeitou o tempo da mãe até que adormeceu no sofá. Quando acordou, deslumbrou os pais em frente. Comiam na sala de jantar com a calma de outros tempos. "Junta-te a nós, ainda está quente", disse a mãe num tom carinhoso.
De dentro do rapaz surgiu uma força tão grande, sentimento tão poderoso que pode-se chamar de fúria. Como era possível estarem os dois a jantar calmamente, quando ainda há horas atrás a mãe tinha regressado sem se saber de onde e a irmã continuava desaparecida?!
Os pais respeitaram aquele grito de revolta e deixaram-no falar. Quando terminou, exausto, Filipe sentou-se no sofá a chorar. Segurava a cabeça com as mãos, enquanto o corpo se dobrava sobre os joelhos. Então sentiu as carícias da mãe sobre o cabelo. Sabia que finalmente o novelo começaria a ser desenrolado.

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